Apresento as questões feitas pela jornalista Rafaella Fraga para reportagem que saiu na g1.globo no último Dia das Mães:
-Você tem percebido um aumento no número de mulheres que decidem ser mães, em produção independente?
Sim. Embora na minha prática estes casos sejam responsáveis por apenas, aproximadamente, 2-3% de todas as pacientes que me procuram para realizar técnicas de reprodução assistida, acredito que a procura tenda a aumentar devido a mudanças comportamentais da população em relação a relacionamentos afetivos, casamento e família e devido também à mídia. Na temporada em que morei nos EUA, observei que a produção independente é muito mais frequente por lá (isto acontece mais frequentemente em regiões mais desenvolvidas e “open-minded” como NY e Boston). Conheci muitas mulheres que fizeram esta opção, incluindo uma psiquiatra de Boston que me contou que participa de um grupo da região formado por 200 mães. Elas trocam experiências e também viajam juntas com suas famílias.
– Qual é o perfil dessa mulher que procura a clínica?
Mulheres independentes, fortes, batalhadoras, responsáveis, cuidadoras, mas muitas vezes solitárias que priorizaram suas carreiras e não relacionamentos amorosos, ou que não encontram um parceiro que considerassem legais com quem ter filhos. Interessante que uma paciente que tive casou após ter 2 filhos de produção independente.
– Quais as opções que ela tem de fertilização?
Pois bem, primeiro, a paciente terá de recorrer a um banco de sêmen e pela regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM), o doador tem de ser anônimo. Segundo, as opções de técnicas de reprodução assistida para produção independente são duas: inseminação intra-uterina (IIU) e fertilização in vitro (FIV). Salientando que existe uma confusão entre os dois tratamentos. A IIU se refere ao preparo do sêmen para posterior inseminação de apenas, em torno de, 1 mL dentro do útero. Estes espermatozóides tem que ir ao encontro do(s) óvulo(s) na tuba uterina para fertilizá-lo(s). Portanto, tanto a tuba uterina como o sêmen tem que ser adequados para que haja gestação. A inseminação é realizada no período fértil da paciente e pode ser através de um ciclo menstrual sem ou com o uso de medicamentos para estimular a ovulação. Já na fertilização in vitro, a mulher obrigatoriamente passa por um tratamento de aproximadamente 11 dias de indução de ovulação com injeções subcutâneas e ecografias seriadas. O objetivo aqui é que vários folículos cresçam (e não apenas 1 como acontece em um ciclo menstrual normal). Quando estes folículos atingem tamanho adequado, eles serão puncionados através de uma agulha conectada ao aparelho de ecografia, com a paciente sedada. Dentro dos folículos, estão os óvulos que serão fertilizados no laboratório. O que acontece na tuba uterina naturalmente ou na IIU; na FIV, acontecerá no laboratório. Após 3-5 dias de vida, um ou mais embriões serão transferidos para o útero materno.
– Nesse tipo de procedimento, é comum ocorrer a gestação de múltiplos? Por que?
Sim, pode haver a gestação de múltiplos nos casos de inseminação intra-uterina em que foi usado medicamentos para induzir ovulação, pois ao invés de ter apenas um folículo para ovular, como quase sempre acontece em um ciclo sem estímulo hormonal, a mulher pode ter 2 ou mais folículos prontos para ovular no momento da inseminação. Mas o ideal é cancelar o procedimento em caso de 3 ou mais folículos grandes. No caso da FIV, a gestação de múltiplos é controlada pelo número de embriões transferidos. Mas lembrar que em ambas as técnicas e mesmo naturalmente pode haver a divisão de 1 embrião em 2 – são os gêmeos univitelinos ou idênticos.